Sobre a maternidade, a busca pela perfeição e a derrubada do bloqueio criativo. Seria este um reencontro com a livre escrita?

Desde que meu filho nasceu, em dezembro de 2022, a vontade de voltar a escrever sobre a maternidade só aumenta. Mas, há um porém: essa vontade se esbarra constantemente numa parede de tijolos levantada com uma boa quantidade de argamassa que eu mesma construí – e tem sido difícil de derrubar.
A cada tijolo, uma insegurança, uma trava.
Em cada tijolo, uma frustração que entra no modo tetris da vida.
Inconscientemente, fui tacando argamassa, para que a parede ficasse firme e forte.
E assim fui me distanciando daquela pessoa que eu acreditava ser e queria voltar a ser: aquela que colocava a mão na massa (sem ser a da parede), que se permitia criar novas possibilidades e que via em seus sonhos a possibilidade de viver melhor.
Uma sonhadora? Talvez.
Mas por que eu simplesmente não conseguia escrever sobre tudo aquilo que preencheu meus dias nesses dois últimos anos?
E foi tanta coisa que eu quis documentar… Desde os dias mais bonitos e inesquecíveis, os mais divertidos, mas também sobre aqueles mais angustiantes.
(Por que não escrevi sobre eles?)
Estaria eu tão imersa na função de criar um outro ser humano da melhor forma possível que então fui esquecendo das minhas outras capacidades?
Ou estaria eu perdida entre tantas de mim?
Confesso, o cansaço também tomou conta.
A maternidade é de fato linda… ver tão de pertinho um outro ser humano descobrindo o mundo, a vida – e ainda de mãos dadas com você – é encantador e preenche a alma de amor. E haja amor. Mas também pode ser exaustivo em seus dias corriqueiros, há de se admitir.
Não tem jeito, essa dualidade faz parte da maternidade. Acordamos recebendo o melhor abraço do mundo, mas muitas vezes vamos dormir exaustas mentalmente – e quase sempre culpadas. Mesmo dando o melhor de si, sempre acreditamos que não fizemos o suficiente para ser a “melhor mãe do mundo”.
Nesses dois últimos anos, fui percebendo que a minha saga pela perfeição foi só aumentando. O que, obviamente, resultou numa mulher constantemente frustrada, devido a uma perfeição inalcançável e completamente ilusória.
A mania de perfeição me levou para um campo sombrio mentalmente.
Eu só poderia escrever, se tivesse a inspiração perfeita e esta pudesse ser transmitida com as palavras certas.
Eu só poderia ser uma boa mãe, se…
Eu só poderia ser uma pessoa melhor, se…
Esse “se” da perfeição foi me engolindo a ponto de eu achar que nada mais na minha vida teria solução. Aquela parede que eu construí teria se transformado num labirinto praticamente sem saída.
Eu não sei bem o que me fez enxergar a saída nesses últimos dias.
Talvez tenha sido o fato do marido ter entrado de férias e eu ter tido mais tempo para olhar pra mim e até pro meu filho. Talvez tenha sido a minha volta pra academia (uma ótima atividade terapêutica para mães exaustas, por sinal). Ou, talvez tenha sido o fato científico de que leva em média dois anos para que os hormônios da mulher voltem ao normal após o nascimento do filho.
(Imagina?! Dois anos para que o cérebro volte ao normal… dois anos.)
Pois é, esse muro foi alto.
E esse primeiro texto, após um bom tempo sem escrever, está ficando até longo. Quem diria?
Talvez tenha ficado um pouco sem sentido – ou tenha sido preenchido de sentidos até demais.
Mas, olha… devo dizer, foi bom derrubar o primeiro tijolo dessa parede antes que eu me perdesse de vez no labirinto.
(ufa!)
Senti que a primeira publicação deste blog precisava ser assim: imperfeita, porém verdadeira.
_ Bem-vinda ao Cultmaternidade, um espaço onde vamos falar sobre os desafios da maternidade, autocuidado & saúde mental, rotina afetiva e a inclusão de atividades criativas para deixar o nosso cotidiano o mais leve possível.